sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Latifúndio

Admiro o vento
Enquanto balanço no seu ritmo.
Prazerosamente agarrado
À superfície serena e rebuscada
De uma fortuita folha.
Figura timidamente lisonjeada
Por compor o órgão vital 
De uma amendoeira qualquer.

Flutuo no intervalo que constitui 
A ínfima espessura de toda essa estrutura.
Película de exterioridade íntima!
Camada improvável, quase divina,
Que impõe os limites de cada ser.

Porém, agora por mim lograda,
És possibilidade compartilhada!
Sem contrato prévio algum acertado
Sobre esse nosso mesmo instante inviolável.

Latifúndio absurdo para um ser profano:
Onde as emoções não se estruturam;
Onde os sentidos não alcançam;
Nem tão pouco a Razão considera.



Vitor "Bardo" Ventura.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Prioridade Vazia

O Deus bom há de intervir!
Subjugando a vida do meu semelhante,
Colocando em desgraça lídimas crianças,
À revelia do livre-arbítrio, 
A favor de meus caprichos!

Um jeitinho aqui, um armengue ali,
Para que minha ignomínia, outrora destino,
Conduza em expressões alegres minha face.
Para que tudo se encaixe e eu seja feliz.

Ande depressa, oh Criador!
Priorize-me!
Não vê? Sou aquele que mais reza! 
Seu "cidadão de bem" que se espera!

Ah, meu Senhor!
Ninguém ousou te implorar tanto.
Portanto, não me canse.
Nem tão pouco me afronte!

Seja feita da MINHA a Sua vontade! 

[...]
Mas a Vida não distingue os sabores 
Da nossa alegria e esperança, 
Dos da nossa tristeza e desalento.
Seu apetite é o mesmo, soberano!

Não existe força alheia 
A essa faminta e assombrosa Teia,
Chamada "Causa e Efeito."
O emaranhado caótico perfeito
Que nos une enquanto solidões.



Vitor "Bardo" Ventura.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Vontade

Enjoei! 
Sim, simplesmente enjoei. 
Não quero mais!

Enjoei sem temer que o enjoar
Fosse uma liquidez intrínseca
Da minha própria vontade.

Logo a vontade que é uma grandeza
Mais imperativa que a verdade!
Em mim solidifica-se, faz viga. 

Tudo por sua natureza límpida.

Um impulso em constante transformação
Que, para permanecer, renova-se.
Sendo cada renovar uma inédita direção!

Sim,
Minha vontade se perpetua 
Pela leveza volátil que seu âmago insinua.

Irônico triunfo do fraco!

A fraqueza indestrutível de uma bruma esparsa
Que compõe e sustenta a estrutura, a face mais pura,
Da liberdade: suas asas.

[...]
Eu aqui, já ao nível do ar, 
Temo por suspeição propagar: 
A força motriz do impulso do desejo do vazio,
Moldável à Vida e aos seus caprichos imponderáveis.


Vitor "Bardo" Ventura.

sábado, 8 de junho de 2019

Disponibilidade Ininterrupta.

Abalos sísmicos por trovões silenciosos.
Nas entrelinhas da auto suspeição,
No cansaço das repetidas palavras,
Mesmo outras palavras sob as mesmas questões.

Reiteradas emoções compartilhadas,
Ludibriando-se, naturalmente equivocadas,
Com o subterfúgio da ideia de unicidade humana.

Esta singularidade deveras má interpretada.
Subserviente do viver somente para o ser ser entendido.
Ou pelo sacrifício honroso de parâmetros enganosos.

Reduzimos assim nossa sociedade.

Uma guerra de renegadas reflexões
Do que nos torna distintas perspectivas,
Mesmo na possibilidade ínfima de não sê-las.

Sim,
Foi neste mundo que adoeci!
Tomado por uma síndrome carrasca,
Parte antagonista da minha querida vaidade,
Jogando-me à negação de meus pré-requisitos invioláveis.

Sou a contrapartida da austeridade do previsível.
A fadiga redentora de uma disponibilidade ininterrupta.
 


Vitor "Bardo" Ventura.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Vaidade

Tenho carência de solidão
E não a encaro como descontinuidade.
Eu rompo com anseio as emoções
Da insuportável racionalidade.

Misturo-me com o cinza
Desbotado que me rodeia.
Com o impulso a pulso
Abrupto que me desnorteia.

Vivo o avulso enervado
Em sua intrínseca natureza.
Já considero inferno
Um céu que me deseja.

Nas sobras de minhas pálidas entranhas,
Convicto de meias verdades
E de certezas que aprendi a negar
Imerso em minha arredia vaidade.



Vitor "Bardo" Ventura.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Eu te quero em liberdade!
Sem pretensões,
Floretos ou folders em branco.
Sou apenas um canto
Empático a suas duras profundas verdades.

Que um dia possam me inspirar.
E ser como tu, soberana!
Proporcionar-me entender,
E amar, essa robusta autonomia cigana.

Sentir-me num universo que não se basta.
No aforismo das emoções,
No limiar das razões,
No interpretar impreciso,
E, por ser assim, exímio,
dessa vida ingenuamente julgada.


Vitor "Bardo" Ventura.

domingo, 20 de maio de 2018

Momentos avessos

Encontros casuais,
Contato profundo.
Todo segundo é um mundo
De frações calorosas do meu ser.

Se assim não for,
Muito em mim me incomoda.
Toda nossa fuga é minha culpa,
E isso sempre me apavora!

Eu, meu freio justo de mim mesmo.
Fábrica de tudo que é saudade,
De incongruentes intensos desejos.

Desperdiço-me.
Desperdiço você,
Meu lado bom...
...Nossas possibilidades.


Vitor "Bardo" Ventura.