quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Desatino

Olhe nos meus olhos perdidos
E diga que tudo foi em vão
Que nunca houve pura paixão
Além daquele apego carnal

Encara-me novamente, mas sem suor
Pois a mentira vem com a hesitação
Mesmo se toda a intenção for a melhor
De não querer ferir a um coração

Encoste sua boca nesta minha
E mostre-me que nunca inclinou
Para beijá-la com a vontade
De tomá-la de vez para ti

Diga-me agora de uma vez por todas
Que de noite nunca chorastes por mim
E sendo cada afogo uma lástima falta
Sonhaste então agarrada com a saudade

E se rasgava e consumia de todo prazer
Imaginando-me ali até chegar a aurora
E te despertar num sufocante desgosto
Levando-me ainda no arrepiar dos cabelos

Diga! Sim! Diga...! Melhor, não diga nada!
Pois a verdade pode doer muito mais
Do que mil lágrimas aqui derramadas
Que meu pranto é capaz de suportar.

Encontro-me maior neste desatino!



Vitor "Bardo" Ventura

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A parede

E então, quando já consciente sob medida
Ainda sim continua a cair no abismo profundo
Catando as estrelas por menores esfoladas
Imaginando ser o guerreiro solitário do mundo

Já não percebe mais sua própria arritmía
Um descompasso acelerado de loga outrora
Um desejo desenfreado para toda essa partida
A certeza eterna da sua fugacidade sofrida

Passa o tempo e o tempo corre de sua sombra
Foge com as nuvens de desenhos tortos
Num céu que já foi diferente dessa mísera sobra
Cavalga esse nômade de decisões impiedosas

Vacilante se depara com a estranha parede de vidro
Ali lisa, limpa, clara, rasa, transparente
Não há passagem. Não agora. O coração não retarda
A batida é firme, profunda, apertada

O desespero não é pai da verdade agora
Já que essa saída que procura vai além da calma
É a sabedoria das perspectivas dessa parede
Misteriosa e temerosa, mas que não reflete pegadas.



Vitor "Bardo" Ventura.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Marcas

Pois bem, se não me faz acreditar
Pois, então, não me deixa em paz
Talvez esta sorte que foge assim
Seja a felicidade que desbanca a democracia

Eu fiz de mim um universo paralelo
Avesso ao que se encontra por ai
Anestésico como a fisgada de um braço
Que eu já não tenho mais

Mas seria toda dor de todo mal?
Teria ela um caminho a mais?
Aprendi que toda a ferida deixa uma cicatriz
Vou comemorá-la!
Pois a dor tem vida curta
Mas as marcas tatuam os sábios que flutuam na eternidade.


Vitor "Bardo" Ventura

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Lídimo

Às vezes toda fantasia
não se parece nem com uma estreita
e fugaz realidade.
O que encontra-se dentro de mim,
pode, porventura, parecer tendenciosamente melancólico.
Porém não é mundo, nem utopia.
E sim uma verdade. Confinada, pura e exilada.
Hoje ela separa a tristeza da alegria.
Amanhã, lídima, unirá meus olhos ao coração.





Vitor Ventura